Bianca Noite
Tenho medo de dizer o teu nome ao meu coração
Porque tenho medo que possa ser outra ilusão
E adio a dor que te pertence e fujo dela como da vida
Morro mais um bocadinho e fico perdida Tento ter controlo no mundo,
Limpo e arrumo de tudo
Como sabes bem que nunca faço
A não ser quando me despedaço
Tento dizer-me que estou melhor assim
E por vezes até acredito
Mas depois o vazio toma conta de mim
E a tua sombra dança pelo canto
Ai de mim que me arrependa digo
Porque não te posso mais ter comigo
De todas as escolhas
Foste a única certa
Bianca Noite
Gostava que nós fossemos aquele tipo de pessoas
Aquele que não consegue deixar de se falar
Depois de tudo cair, depois de tudo falhar
Aquele tipo que ás vezes desliza do nada
Aqueles que acham que é tudo uma estrada
Gostava que fossemos menos correctos
Que por vezes fizessemos coisas perdidos
Nos perdessemos por vezes no mundo
E no dia seguinte tivessemos o arrependimento
Nós não somos assim mas gostava,
Gostava de te poder ver e poder falar
Sem que nos prendesse nada
Todas as palavras que não se dizem, do amar
Todas as coisas que deixamos ficar Gostava que fossemos aquele tipo de pessoas
As quais diziamos não perceber
Que tudo faziam, maguando-se
E nos questionavamo-nos para quê assim ser
Bianca Noite
Porque gosto eu tanto de filmes tristes
Ou mesmo de romances?
De amores terríveis e belos
De pedaços de vida, de retalhos?
Porque amo eu histórias perdidas?
Amores que nunca irão durar?
Porque dou eu tudo por coisas
Que mais tarde ou mais cedo vou deixar?
A minha procura incessante,
Pela história, aquela que vou repetir
Que vezes sem conta irei repetir...
Coração itinerante, este o meu
Nunca se cansa nem irá cansar
Vive tanto de rir quanto de chorar
E no fim será para sempre o único
Que me ira beijar boa noite
E acompanhar-me até à morte
Bianca Noite
O mar, calmo e sereno chama-me
Canta-me nesta noite de Verão
Diz-me para ir, regalar-me nele
para mergulhar e acompanha-lo na canção
Sentir a paz, a calma, o deleite
Sentir a água fria no meu corpo nu
Somente ver os brilho da lua na água
E a civilização lá longe
Unir-me ao que é puro
Embalada e protegida pelo escuro
Deixar que a água leve tudo
Ser somente nada
O frio da agua a acarinhar-me
Como que a uma velha amiga
Uma amante, uma amante esquecida
Embalar-me, e dizer-me
Acabou, minha querida, agora descansa
Bianca Noite
Tornei-me em aço a arrefecer
Não sei de que alquimista provenho
Mas de mim é que já não posso ser.
Quanto mais fria fico, menos sinto
Andando com a coragem do mundo
Sou irreverente e bela, mas fria
Sonhei que um dia seria doce, seria mel
Mas hoje abro os olhos e sei
Sou fria e dura, nem fel chego a ser
Nem sabor tenho, nem cheiro
Sou um bloco de pedra aqui sentado
Um bloco de pedra que nada sente
E quer sentir, pior ainda, quer sentir
Porque toda a gente sente,
E não quero ser diferente.
Bianca Noite
É tão bom sentir-me viva de novo
Caminhar sem medo de cair
Andar livre, caminhar e sentir
Não me preocupar, amar-me por fim
Paro de sonhar, de divagar
Quero sugar tudo o que a vida me tem para dar
Viver aquilo que me aparece,
Colher somente o que me apetece
Viver para mim, perder-me assim
Amando o mundo, respeitando-o
Caminhando cantando, sonhando-o
Gritar sem medo de o fazer por fim
Rir até não mais poder, viver a liberdade
Sem me comprometer, sem sentir nenhuma saudade
Bianca Noite
Sou um mar de lágrimas por chorar,
Água estagnada que não tem por onde escoar,
Sou agua fétida, podre, corrompida
E nada me pode voltar a purificar
Pois há muito que fiquei na sombra perdida
Amo a luz desejo-a, faço tudo por ela
Mas no fundo não a tenho, apenas sonho tela
Afasto-me tanto do que sou, só para essa doçura provar
Que quando volto a mim, dói-me ainda mais perde-la
E de mim, não há nada que me possa salvar
Perdi-me, fugindo da minha apaixonada loucura
Mas é isto que sou, uma paixão sem cura
Amo de tal forma amar, que me esqueço do que sou
Sou a irritante chuva de um dia de verão,
Rego as plantas, acaricio tudo em que toco com devoção
Mas por muito amor ao mundo, todo ele me desprezou
Bianca Noite
A minha alma é mero esboço Linhas do que fui, bases do que ei de ser Mas uma coisa eu sei, que colorida ei de ser Mais do que sou e do que alguma vez fui Sou pintura de um grande artista Mas não me confinarei a museus, Não sou para ser espreitada Tenho horror a ser analisada Não não... jámais farei parte de museu Serei sim quadro de colecção privada, Mas sem dono, nem que fique no abandono Como se pernas tivesse e anda-se por onde quizesse E que cores terei... cores mais belas que a própria cor Luminosas e vivas, carregadas de força e vivacidade Cores que por onde passarem, deixarão saudade Mas serei tão abstrata, Que quem me olhar de perto, mais confuso ficará Mais fascinado e maravilhado Oh... mas um quadro jamais será amado Belo mas mais nada que decoração de parede Mas que destino terá então Este pobre que já nem têm coração...