Bianca Noite
Deus, que partidas pregas tu a minha alma?
Que já nem sei o que sei nem o que quero saber
Sei que navego por águas estranhas, sem o serem
De repente tanta calma?
Oh, bom agoiro não pode ser,
E eu cá ando, velejando.
Vou amando vou amando,
Nada faço, há muito que me deixei de guerrilhas
E quanto mais olho para a água que me vai guiando
Mais me agarro ao mastro e as velas.
Vou vendo o barco cada vez mais pequenino,
E a água? Mil cadáveres com olhos brilhantes
E este nevoeiro que não passa, e se aparece um remoinho?
Arrastar-me-ão com eles, eu sei, talvez me salve antes
O mastro vai ficando também estreito, escapa-me
E eu, eu vou agarrando-me como posso,
Mas os mortos vivos chamam-me
Acabarei engolida pelo meu foço.
Bianca Noite
Começo de novo o rumo de sempre
Aquele que sempre começo e nunca acabo
Aquele que volto atrás porque acho que não consigo
Aquele cheio de hesitações, de preguiça
Acomodações!
Mas hoje quero ser melhor,
Mesmo que já seja noite, quero tentar
Não quero ceder ao faço amanha, não hoje
Hoje... que palavra abrangente, hoje não
Agora, Neste momento, neste preciso milésimo de segundo!
Que seja inverno, que chova, que neve,
Que venha a maior tempestade, o maior vendaval
Estou farta de nadar na minha própria miséria.
Não tento porque posso falhar... pobre idiota
Morte a essa saga! A esses pensamentos medíocres!
Neste momento largo este cadáver de cobardia
Porque ter medo de viver, de arriscar, de perder
Não só nos priva do que é bom, como ainda
Nos consome por dentro.
Que tudo isso desapareça, e que dê lugar a mim.