Bianca Noite
Apenas queria ir tomar um café, Uma conversa profunda, ou assim assim Profunda certamente, desabafar até Libertar um pouco do que há em mim Mas há tantas mais coisas que fazer Tantas outras pessoas a atender Tanta vida que viver e resolver E fico esquecida novamente
Odeio sentir que estou a reclamar Tenho que vos lembrar que também sou gente Não sou vitima, mas também quero falar Também mereço ser ouvida, mesmo sendo resiliente
Ligo-vos e falamos de vós Falamos dou tudo de mim, e mais Sentem carinho, companhia, ás vezes até demais Represento mil papeis, para que não se sintam sós
E no fim quem fica sozinha sou eu Toda esta sapiência é somente vivencias E vou vagueando há procura de um cantinho meu Vou vivendo, sofrendo e acumulando experiências Parece que se me virem tremer, vos treme o mundo Então sorrio, e convido-vos para um café Desejando apenas um ouvido, uma palavra amiga e um pouco de alivio até
Bianca Noite
Mulher forte, mulher de garra, digo ser
Com tantas paredes e labirintos, que me consegui perder
E olho o mundo lá fora, com já tão pouco de mim
Vejo todos a fugir, todos a desaparecer enfim
E choro na minha prisão por mim erguida
Tento agarrar o pouco que aqui está ainda
Mas já está tudo de partida
E eu deixo tudo ir, destroçada
Porque me vêem assim tão imponente?
Sou apenas humana, tenho alma, sou gente
Luto pela vida como qualquer um de vós
Quero gritar pela ajuda que nunca vou ter
Quero fazer uma birra para que possa prender-vos
Mas não o farei, o orgulho comanda o meu ser.
Bianca Noite
Porque gosto eu tanto de filmes tristes
Ou mesmo de romances?
De amores terríveis e belos
De pedaços de vida, de retalhos?
Porque amo eu histórias perdidas?
Amores que nunca irão durar?
Porque dou eu tudo por coisas
Que mais tarde ou mais cedo vou deixar?
A minha procura incessante,
Pela história, aquela que vou repetir
Que vezes sem conta irei repetir...
Coração itinerante, este o meu
Nunca se cansa nem irá cansar
Vive tanto de rir quanto de chorar
E no fim será para sempre o único
Que me ira beijar boa noite
E acompanhar-me até à morte
Bianca Noite
Falta-me poetas e inspirações
O tempo faz-me sentir vazia
O mundo arde em emoções
E eu aqui fico, pasma e esquecida
Já não me revolto, não por falta de razões
Mas por razões a mais
Os altos perdem-se em perdões
Os baixos perdem as razões
Eu paro olho e calo, e eu que aclamava
O meu silencio, apesar de tudo não diz nada
Apenas observo, oiço as palavras soltas
E eu, a revoltada, fico pasmada
Anos de gente cega, e agora
Gente cega com a mania que vê
Preferia os zombies, aos agentes da revolta
Tal qual marionetas, o resto já se prevê
Que Deus nos salve do que está para vir
Heróis neste mundo, têm dois nomes
A memória partiu, fruto dos interesses
E eu que relembro, vejo tudo a cair
Nós já tivemos vários D. Sebastiões
Heróis da morte ou da cegueira
Quem tanto procura no meio do nevoeiro
Acaba por nem ver quem aclama com tanta fervura...
Bianca Noite
Esta noite podes dormir, meu pequeno
Hoje guardarei o teu sono, podes sonhar
Podes descansar por fim, vim para ficar
Até ao dia que me digas para não vir
Afagar-te-ei o cabelo, sussurrarte-ei
Acompanhar-te-ei durante esta noite
Para te dar força nos pesadelos
Para partilhar contigo os sonhos
Para te esperar quando caíres,
Para te animar quando desistires
Nada te pedirei em troca, nada
Confiarei em ti, e no teu tempo
E confiarei em mim, e em nós
Hoje embalo-te, e espero ficar para sempre
Bianca Noite
Hoje queria sunsurrar-te ao ouvido
Mimar-te no meu regaço, ser o teu abrigo
Como um dia fui, antes de tudo,
Quando o meu amor era inocente
Quando tudo fazia sentido
Mas hoje esbanjo-me no meu egoísmo
Era eu e mais eu, constantemente
Nado no desespero, na culpa, no abismo
Como consegui transformar algo tão bom
Tão puro, no mais atroz egocentrismo
Nesses tempos viajava nos sonhos
Para te acarinhar e acalmar, estava ali
Depois estava ali porque querias que estivesses aqui
Quão sedenta de tudo, quão faminta estava
Devorei-te até ao âmago, e nem vi
Nem vi nada, meu pequeno, nada
Não te pedirei desculpas, porque será pior
Ultimamente, é somente o que sei fazer
E tu não mereces ter que suportar mais esta dor
Mas gostava de voltar aqueles dias
Ou voltar aquele sentimento estonteante
E mais uma vez, viajar nos sonhos
E sussurrar-te que te amo, e guardar-te o sono
Mais uma vez, e desta vez para todo o sempre
Bianca Noite
Pensar que não passamos de palavras
De coisas ditas sem sentido
Que nos perdemos e encontramos
Sendo palavras, vivendo fugazmente como palavras
As que te disse, as que me disseste
Tão mais fortes que nós, que o nosso amor
Não por ele ser fraco mas por nós sermos
Nós que nos deixamos levar por palavras
Nos deixamos magoar por palavras
Palavras, palavras e palavras
Palavras que nos guiam que nos ajudam
Palavras que nos magoam e destroem
Nós não passamos disso, palavras
Ou então deixamo-nos ser, somente isso
Deixamo-nos ser...
Bianca Noite
E pensar que te deixei ir
Pensar que virei as costas
Que te pedi para partir
E pensar nas vezes que chorei
Pensar que me amavas
Que te larguei
Pensar em todos os momentos
Todos os pequenos carinhos
Todas as loucuras e sonhos
Pensar em tudo o que foi bom
Todas as parvas brincadeiras
Todos os abraços e beijos
Saber que nunca amei tanto
Saber que tudo isto não foi suficiente
Toda a paixão, todo o amor
Toda a loucura todo esse calor
Saber que eu não estava bem
Saber que tudo isto é absurdo
Mas que é tarde demais
Tarde para recomeçar
Deitei-nos nas mãos dos deuses
Com esperança que talvez um dia
Se assim tiver que ser, se assim for
Possamos começar de novo
Mas agora quero chorar todas as lágrimas
Sentir todas as dores, aprender
Aprender tudo o que tiver que ser
E talvez um dia, Um dia estaremos
Finalmente, prontos para lidar com tudo
Com tamanha emoção e loucura
Bianca Noite
Eu queria que soubesses, e sei que até sabes
O quanto gosto de ti, e o quão me sinto bem
Quando não me calas ou não me abafas
Quando choras, o alivio que sinto
Porque sei, o quão evitas a tua humanidade
A tua vulnerabilidade, e digo-te
És mais forte quando o és,
És mais forte quando gritas de frustração
Em vez de ódio ou raiva ou indignação
És mais forte quando choras,
És mais forte quando abres essas portas
E o mundo entra e sai, e eu sinto-me completa
Porque eu sou quem tu amofas,
Eu sou por quem tu não choras,
Eu sou quem tu prendes,
Eu, Eu sou a tua liberdade
Eu sou a tua humanidade
Eu sou sempre a esquecida, Consciência
Bianca Noite
A ti que que nunca te escrevi...
Não sei porquê, talvez nunca tanto senti
Talvez as palavras traíram-me ou fugiram de mim
Talvez pensei que tudo já tinha sido dito
Talvez tive medo que visses, Talvez tive medo do fim
Talvez estava a espera das palavras certas
Talvez de uma obra prima,
Ou achei que a minha poesia não era digna
Mas não é desculpa, não é desculpa a minha poesia não ser digna
Ela é como eu, ela é simples, ela é sentida, ela é desarrumada
Ela é tanto doce como amarga, ela é o esboço do que poderia ser
Ela é sonhos e amores e desamores, ela é sentimentos,
Ela é incompleta e de alguém que não é poeta
Ela é confusa, ela não é pensada, nem reescrita
As vezes rima outras não, as vezes tem forma outras não
Mas acho que não, Sei que não
Nunca quis proferir as palavras porque doeria demais
Doeria demais não as ouvir de volta,
Nunca quis escrever por medo de sentir
Por medo de me perder, por medo de me esquecer
E tu, tu que lidas com este emaranhado de mim
E me acalmas e sem dizer nada dizes que está tudo bem
Que não vai acontecer nada que vai tudo correr bem
E no entanto eu não quero falar, não quero escrever
Não te quero dizer, nem te quero escrever
Somente falei de ti em poemas, escrevi-te antes de tudo
Mas depois, depois de te ter comigo, faltou-me a coragem
A coragem para me entregar, a coragem para te amar
Por isso hoje escrevo-te, somente para te dizer
Se ainda não for tarde demais, que te amo,
Que sou tua de uma maneira que nunca fui de ninguém
E que todas as vezes que ralhei foi por saudade
Todas... Incluindo as que bati o pé, e que virei costas
Todas as vezes que não disse o que sentia,
Era porque não queria que me visses fraca... que me visses humana
E por tudo isto peço desculpa, porque ninguém tem mais direito ás minhas palavras
Ninguém tem mais direito as minhas lágrimas e as minhas gargalhadas
Ninguém tem mais direito ao meu coração, e de ver a minha alma
Ninguém