Floresta
Existe uma floresta, no fundo do fundo,
De onde nascem as ilusões, e tudo o que é medo
Todos nós estamos lá, bem no meio da noite
E tapamos os olhos com as mãos,
Como quem finge que não existe
Ocupa-mo-nos e criamos toda uma rede de nãos
Uma negação constante de tudo o que é
De toda a dor de todo o medo de toda a solidão
Estamos sem nada no meio do negro de tudo há mercê
Fingimos que não, e na nossa imaginação criamos egos
Criamos vícios, fugas e muralhas, tudo serve e tudo usamos
Criamos barreiras imaginárias, crenças de que somos únicos
Invejamos quem nos parece bem, e ajudamos quem mal nos parece
Por vezes quando o barulho da fuga pára e vêm o silencio
Conseguimos sentir o terror, a solidão, a dor, tudo estremece
E nesse momento, ou abrimos os olhos ou voltamos ao início
Mas ninguém consegue, verdadeiramente fugir do seu eu
Neste lugar, não há lugar para coragem, nem barreiras nem nada
somos crianças nuas, perdidas numa floresta cheia de monstros
Eles olham-nos nos olhos, toda uma raiva, dor, e malícia encarnada
A nós apenas nos resta lá ficar, e sentir e existir no meio dos medos
Talvez um dia, a noite será nossa amiga,
Talvez um dia, os monstros nos embalarão
Talvez um dia a floresta será a nossa casa
Mas os monstros monstruosos sempre serão