Bianca Noite
Olho-te, o meu coração pára por um momento,
O tempo deixa de ser tempo, os teus olhos
Gigantes castanhos prendem-me, estás perto
Sinto a tua respiração, disparam-me os sentidos
A tua mão pega-me cuidadosamente na face
Os meus lábios abrem-se num sorriso leve
Tu aproximas-te, os teus lábios tocam-me
Na bochecha, timidamente
Carinhosamente, eu beijo-te
E o tempo pára, o mundo pára,
O meu coração dispára
A pele arrepia-se, transformo-me em calor
Desejo, Um carinho, verdadeiro amor
Sinto cada toque cada carícia
Puxas-me para ti pela anca
Passo a mão nos teus cabelos,
Que isto não páre nunca!
Fogo, Desejo, Amor,
Tornamo-nos.
Bianca Noite
Caminho, criança, num mundo de adultos
Para mim ainda é tudo a brincar, digo
Mas os olhares caem sobre mim, maduros
E eu sorrio e caminho, não há perigo
Mas o tempo trás peso e culpa
E eu cada vez mais fico sem desculpa
Olham-me severamente, e eu estremeço
Deixem-me estar! É tudo o que peço!
Mas a persistência do mundo devora-me
Vou-me transformando numa farsa
E brinco que sou o que não sou, perco-me
Riu, Grito, Choro dentro de uma carapaça
Envolvo-me na intricada teia do mundo
Do que deve ser e do que é suposto ser
Brinco aos grandes, ponho saltos altos e tudo
Esqueço-me do que sou, dói-me o ser
Conformo-me aos quadrados, mas não o sou
As obrigações, as suposições fazem-me tremer
Já ninguém me conhece, nem me consegue ver
Na minha suposta liberdade, emaranhada estou
Quero fugir, quero desaparecer, e tudo largar
Quero pintar voltar a sonhar e voltar a viver
Quero o meu tempo de volta, o meu sonhar
Quero me a mim, de volta, antes de perecer