O virar da página
Dispo-me por fim de toda esta amargura
De todo este amor sem doçura,
Hoje vejo, hoje sei, que um dia te amei
Mas hoje não, não mais, viro a página por fim
Não a viro com ódio, não a viro com despeito
Não a viro também com felicidade, viro-a sim
com o mais profundo respeito
Porque sei que no fundo, és parte de mim
Pois há paixões que duram pouco ou nada
Outras que corroem, parecendo a vitima condenada
E por fim, as mais fortes, aquelas que podem ser
Que podem durar, mas por algum motivo,
Acabamos por as perder.
Essas duram enquanto o ser for vivo
A forma como nos tocam, como nos afastam de nós
Da nossa razão, fazendo tudo em prole do outro
Fazem-nos perceber tanto acerca do que somos
Que quando passa a amargura, somos um espectro
Do que um dia fomos, para que possamos crescer
Esses ensinamentos levamos connosco,
jamais os iremos esquecer
São nos gravados na pele, com admiração, e com amor
Limpam-nos por dentro, e por fim, nascemos de novo
Ou nascemos enfim, abrimos os olhos finalmente
E damos valor ás grandes e pequenas coisas
Aprendemos que o tempo e escasso, que a juventude mente
E que somente se tivermos outra paixão
Uma terrível paixão por nós, e pelas pequenas coisas esquecidas
Viveremos em paz, e podemos voltar a abrir o coração
Hoje não te amo, mas guardo-te, e assim ficarás comigo
Como alguém que eu profundamente admiro, que apesar da magoa
Jamais esquecerei, porque também é meu amigo
Hoje sei, por fim, já não haverá por ti mais nenhuma lágrima