Bianca Noite
Perco-me mas acho-me no meio destes estilhaços
Descubro-me, Cresço, Aprendo, Acarinho-me
E Quero tornar tudo isto produtivo, apanhando os bocados
Aprendendo realmente a amar-me
Dos pedaços faço uma obra de arte
Eu mesma, com um coração bem maior
E de tudo faço para abrir a minha mente
Acarinho e recupero o meu interior
Sei que vai custar, que vai demorar
Mas Deus é grande e em tudo nos traz uma lição
Nem que isso seja, curar um partido coração
Bianca Noite
Revolta, Raiva, perco-me na minha ira
Solto em mim quem fui, Agarro aquilo que sou
Destruo cada partícula, cada ilusão, ponho-te na mira
E disparo, sem remorsos, Tentando acabar com o que me restou
Tanto tempo perdido, fui usada, enganada
Iludida por um amor, que não era nada
Rastejei, supliquei, perdi e me achei
Cegueira maldita que me tomou, pensei
Agora sou nada, sou carcaça envelhecida
Coração partido, cadáver decomposto
Na minha loucura estou por fim perdida,
Na ira também, com muito gosto
Estou a cair eu sei, mas hoje rio-me, Rio-me
Como em épocas passadas, o que não nos mata, torna-nos mais fortes
E hoje caio com prazer, hoje com gosto perco-me
Não vejo o fundo do abismo, mas sei que depois viram dias quentes
E eu vencerei como sempre venci,
Amarei como sempre amei
E tu verás que o que perdi
Foi bem menos do que ganhei
Bianca Noite
Tornei-me uma mendiga,
Imploro-te o mundo, mendigo-te que voltes,
Mas nada, passas por mim e já nem me vez,
Dás-me as desculpas de quem não dá nada,
E eu? Eu ainda te beijo os pés
Som uma sombra de mim mesma,
Ainda me lembro quando era forte,
Quando lutava como quem a vida ama
Mas agora? Estou nas mãos da sorte
Choro pelo que me tornei, Choro!
Antes ria-me do meu mundo a cair
Agarrava pelos cornos o touro
E enquanto caia, estava-me a rir
Agora?Mendigo, Rastejo, Imploro
Não aguento que me mandes assim embora
Tu sabes o quanto te adoro
O quanto te amo, e como ainda não está na hora
Quem sou eu? O meu antigo eu rir-se-ia de mim
Chamar-me ia idiota, desdenharia, gozar-me-ia
Já não sei se antes era louca, ou se enlouqueci agora assim
Mas já não acredito em nada, como nisto não acreditaria
A vida dá voltas, e eu que nunca achei que me rebaixaria
Estou aqui no chão, sem vontade de reagir,
Jamais calculei o quanto te amaria
Jamais pensei ver-te partir
E mesmo sabendo tudo isto, o quão ridícula estou a ser
Continuo a rastejar, porque não suporto a ideia de te perder
Bianca Noite
Estou quieta calada,
O nevoeiro à minha volta consome-me
E eu, deixo-me consumir
Não sinto que seja nada,
Sei mas não quero saber como me sinto
E vou-me deixando ir
Vou tento pena de mim mesma
Sou nada, não sou ninguém
Quero tanto desaparecer, perder-me
No entanto, fico aqui quieta
Silenciosa também
Sem palavras, tento esquecer-me
Esqueço o que sou, o que quis ser
Esqueço que existo, que tenho uma vida
Quero desaparecer, por entre este terrível nevoeiro
Mas nada esqueço, continuo também a crer
E cada vez me sinto mais perdida
Vou-me destruindo, e aqui espero
Bianca Noite
Nestes momentos em que o nó na garganta aperta
O mundo, por muito brilhante, nos parece cinzento,
Quando a dor que sentimos, a cada momento nos esgota
Quando nos olhamos ao espelho e não vemos ninguém
Quando queremos que tudo á nossa volta partilhe o nosso sofrimento
Querendo destruir, aniquilar tudo, só para que nos sintamos bem,
E as lágrimas prendem, porque não querem sair
Ou porque não queremos que elas saiam,
Arrumamos tudo aquilo que queremos ver a cair
Só para dizermos a ninguém que estamos bem
E apenas rezamos para que com tudo não percamos a razão
Qual razão, nunca se sabe, apenas que não queremos piorar
Sabendo que é apenas o inicio, que nada vai melhorar
Vamo-nos atirar para o abismo e queremos permanecer calmos
Porque bem no fundo sabemos que não há outra opção
Sabemos que é necessário morrer para renascer
Mas nós nem preparados estamos...
Desesperamos perante qualquer conformação
È demasiado cedo para perder, tentamo-nos convencer
Mas nada, não há um único sinal que nos diga o contrário
E choramos, desesperamos, rastejamos, porque não queremos andar
Queremos esperar que nos venham salvar
Mas nada há para além de um grande abismo, estamos no silencio
Não há vento, apenas erva morta, devastação desastre
Somos uma humana catástrofe,
E depois? Depois vem a revolta... Queremos destruir
Destruir as ervas e os troncos mortos, o ar que não se mexe
A tristeza que nos está por dentro, tudo vale, para o abismo não ir
Perguntamos ao céu mil vezes o porquê, nada responde
Começamos a destruir-nos a nós, nada há para além disso
Apenas queremos aliviar a dor, e para isso fazemos tudo o que for preciso
Imploramos, rastejamos, choramos o que somos, o que não somos
E no fim, depois de tanto esforço, sabemos que estamos perdidos...
Bianca Noite
Cai, Cai e ainda estou a cair,
Afogando-me no meu próprio silencio,
No falso sorrir,
No meu amargo sofrimento.
E nada me agarra e me salva
Nada me leva
Como ousas, como ousas
E de cada palavra que escrevo
Mais pesadas se tornam as lágrimas
Aquelas que sangram do meu peito
E que eu contenho com tanta força
Que tudo o que me resta
É esperar que o tempo passe depressa.
Choro palavras pesadas, fúnebres
Choro aquilo que não quero chorar
Choro, sem mais nada esperar
Mantenho longe os desejos
Mantenho longe as lembranças
Todas as esperanças
Mantenho longe os teus beijos
Mantenho-me longe de mim
E por agora, ficarei assim
Bianca Noite
Deus, que partidas pregas tu a minha alma?
Que já nem sei o que sei nem o que quero saber
Sei que navego por águas estranhas, sem o serem
De repente tanta calma?
Oh, bom agoiro não pode ser,
E eu cá ando, velejando.
Vou amando vou amando,
Nada faço, há muito que me deixei de guerrilhas
E quanto mais olho para a água que me vai guiando
Mais me agarro ao mastro e as velas.
Vou vendo o barco cada vez mais pequenino,
E a água? Mil cadáveres com olhos brilhantes
E este nevoeiro que não passa, e se aparece um remoinho?
Arrastar-me-ão com eles, eu sei, talvez me salve antes
O mastro vai ficando também estreito, escapa-me
E eu, eu vou agarrando-me como posso,
Mas os mortos vivos chamam-me
Acabarei engolida pelo meu foço.
Bianca Noite
Em mim, as tuas palavras são como mel,
Brilhantes e doces gotas que me aquecem,
Quando tudo o resto é um começo de vida,
Tu és a minha vida toda, e a outra parte de minha alma
Parece que já lá foi uma eternidade contigo
Mas, no entanto, continua a cede de te ter por outra maior
Por vezes a saudade aperta, por não te ter aqui comigo
Sim, tu, minha alma, não me canso de te dizer o quanto te amo
E até isso parece pequeno, tão pequeno ao pé do que sinto
E por muito longe, por muito além que estejas,
Não há nada que não sinta a tua falta,
Se não for a musica, é o silencio,
Se não forem os paços, é a sua ausência,
Se não for o estalo da madeira, é a sua inércia,
Se não for a tua marca num copo, é o seu brilho,
Se não for a luz que entra pela janela, é a escuridão
Se não for o pingar de uma torneira, é a chuva lá fora
Se não for o caos, é a ordem a mais...
Esta tua ausência, é tão maldita e bendita
Tanto pela saudade, quanto pela sua percepção
Tanto pelo amor, como pelo sentimento de ser tão real
Que de uma solitária rapariga, se fez alguém que acredita
Do meu coração de pedra, se fez algodão,
Do meu mundo feliz, um triste ideal
Pois nada, nem a imaginação mais inventiva
Consegue chegar ao que é tocar-te
Nem o ideal mais perfeito
Consegue chegar ao que é beijar-te
Nem a pura felicidade
Alguma vez o sobe, nem chegará jamais a saber.