Bianca Noite
As sombras da casa caiem sobre mim
Desabrocham por todos os cantos
E eu? Eu vou chorando por fim
Sussurram coisas doces, encantos
Falam-me da beleza do passado
E o meu coração dói ao ficar apertado
Jorra-me um rio de lágrimas
Jorra-me um sem fim de tristezas
E elas continuam a nascer
Como flores pelos cantos,
Tornando ainda mais difícil te esquecer
Flores negras, relembrando-me de momentos
Amaldiçoadas, envolvem-me no breu
Com uma bela canção acerca do que foi meu
A dor alastra-se e eu tremo, soluço, encolho-me
Berro sofrida, escondo-me e abraço-me
Agarro o peito como que alvejada
Mas não o fui não está lá nada
Depois acabo por sossegar, conformada
Relembrando-me que apesar de tudo fui amada
Bianca Noite
Somente o silencio me acompanha
Como uma paz sem o ser
Não só a alegria me estranha
Mas a tristeza já não tem porque aparecer
E o silencio acompanha-me
A par com o meu vazio, compreende-me
E eu, eu caminho apática
Mil e uma pessoas, mil e uma aventuras
E eu não quero nada, somente o silencio
Caminhar por mil e um caminhos, pequenas ruas
E na pele sentir o calor e o frio
Fazer tudo, atingir a sobrenatural calma
No entanto nada me olha, nada me chama
E eu, eu caminho apática
Os sonhos deixaram de existir
Mas não lhes sinto a falta
Agora caminho observando, sem nada sentir
Mas não necessito, nem disto fico farta
Sou somente o que era suposto ser
E até ao dia que morrer
Eu, eu caminho apática
Bianca Noite
Sou uma pedra, dura e gasta
Oca, tão completamente oca
E não há nada que me quebre que me parta
E vou pela raiva, ficando louca.
Já nem olho nada, não acredito em nada
Sou o físico do meu ser, sou a raiva que me consome
Aquela que fui foi para sempre levada
E eu sou o momento depois da morte
Cortaram-me as asas, colaram-me ao chão
Perdi aquilo com que sonhava
E hoje nem tenho coração
Idolatro aquela que em mim chorava
Porque enquanto chorava, vivia
Porque enquanto amava, ainda mais sorria