Bianca Noite
Cá ando eu, falando de areia e pedras,
De desertos em que nunca estive
Da solidão que sinto e de onde me saem as palavras
Dizendo que não sei rir, mas rindo-me do mundo...
Pobre criança mimada, pobre criança que nunca o foi,
Pobre da criança que pouco correu pelas ruas,
Que nunca se magoou nunca caio, pobre da criança...
Que viveu por entre palácios de cristal e tabus constantes
Em que nada mais existia para além de princesas em torres
Sereias e também guerreiras, sozinhas, lutando apenas lutando...
Quem me julga por não me habituar nunca à realidade?
Quem me julga por ser assim, melancólica, vazia?
Quem me julga por me rir de tudo, todos e de mim?
Quem me julga por não sentir saudade
Quem me julga por ser assim?
Ninguém porque não há ninguém que o veja,
Porque também não há quem seja mais feliz
Porque eu nunca soube o que é ter paz e ser petiz
E a minha força, há muita gente que a deseja,
Porque nunca aprendeu a ser um todo, ser sozinha
E eu o sou, todos os dias e cada vez mais
Vivo na consciência que o mundo vive cego,
Ninguém vê nada para além de batalhas ganhas
Ninguém aprendeu a cair, a enfrentar o perigo
Apenas a aclamar façanhas
E eu? Eu sou Rapunzel observando da minha torre
Esperando, o nada que há de vir,
Vivo sonhando, Vivo amando o que o meu olhar acolhe,
Esperando um dia, partir.
Bianca Noite
Eterna peregrina, caminho no meu deserto
Procuro sem cessar pela paz que não quero
E quando pareço estar mais perto
Cai-me tudo das mãos, por falta de perícia
Ou sei lá, falha do instinto...
Medo que me atormenta de todas as vezes que caí
E aquilo que não era fumo, por falta de crença nisso se torna...
Mas nada me derrota, nada me para, apenas transtorna
E com mil e uma feridas, ando sempre de pé
Caminho sobre areia,
E no fim, sou sempre eu, e no fundo nada me arrelia
Porque eu escolhi assim,
E na calma do meu ser agitado
Vou sempre andando...
Bianca Noite
Cá ando, dia após dia, noite após noite
Vivendo um mar de emoções,
Cansada do que foi perder-te
Talvez já não há choros,
Secam-me as lágrimas aos poucos
Mas procuro-te todos os dias
Vejo-te mil vezes mais
Pergunto-me o que dizer querias
Invento momentos inrreais,
Imagino, o que não pode ser...
E no fim... no fim não há nada
Por muito que espere, não te vejo
Por muito que desespere, não tenho o que desejo
Peço, imploro aos céus, só um olhar só mais um
Nada, e assim pereço
Não me riu da mesma maneira,
Não sou nada do que era
Perco-me mil vezes, para voltar a ser eu
Mas de cada vez sou menos,
Os outros perco-os aos poucos
Cada vez tou mais preocupada
E cada vez mais perdida...
Ninguém me pode ajudar
E eu, sinto-me fraquejar...
E cá caminho, sem vontade de caminhar
Com a minha cabeça a pregar-me partidas
A tentar estancar as minhas feridas,
Apenas para poder voltar a viver, voltar a sonhar...
Bianca Noite
perdi-me... perdi-me por ai,
nem as letras já fazem sentido,
nem o céu nem o chão,
mais um coração partido...
mas...
Não!!!!!
Falem-me, falem-me
olhem-me porque sim,
Riam-se para mim, batam palmas
Hoje é dia! hoje é dia!
Batam palmas! batam palmas!
Porquê?...
porque hoje não existo... não existo
e eu, mesmo não existindo gosto de ser notada,
por isso façam-me sentir actriz da minha peça!
Uma peça...
Não há nada mais maravilhoso
do que enfrentar daquela forma o mundo,
e quando tudo sucede bem, grande sorriso disperto
Grande felicidade, grande orgulho, grande ego!!
Isso ninguém me tira! Isso ninguém me tira
Batam palmas! batam palmas!
E por isso, hoje, por entre a tristeza estou feliz
Hoje... hoje...
Bianca Noite
Cá me afundo, afundo em mim mesma,
Afundo-me na minha vida, que me dá tudo
E como em tantas outras, tira de seguida...
As rimas não existem,
Porque me parecem ridiculas neste momento
Estou calma, tão calma que me deixo arrastar no velório que é meu
Não existe mais nada, a não ser eu, eu e a minha melancolia.
Não choro, estou demasiado calma para isso, mas desvaneço
E quero-me puxar para cima, mas no fundo quero ir
Quero partir para nunca mais voltar...
Seria tudo tão mais facil, esquecer o mundo, esquecer-te a ti
De qualquer das formas ninguém repara...
Tenho que implorar por alguém que me oiça,
Porque sou forte, porque sou sempre forte,
E ninguém vê uma pessoa forte mal,
É como ver que mesmo para Aquelas pessoas,
O mundo não sorri, e a esperança vai-se...
E eu que sou a esperança dos outros?
A quem recorro para me dar esperança?
A mim... A ninguém